Tuberculose: Participação do dia 8 de outubro de 2009

Programa “Globo Cidade”, rádio Globo AM 1390 (www.globocampinas.com.br ), bloco “A cidade em debate”, dia 8 de outubro de 2009:

Marco Massiarelli (âncora) – Cinco horas, quarenta minutos continuamos aqui com o “Globo Cidade” ... Agora nós vamos debater um assunto importante: De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde aproximadamente nove milhões e 270 mil casos novos de tuberculose ocorreram somente no ano de 2007. Desses, cerca de 15%, ou seja, um milhão e 370 mil são casos de co-infecção tuberculose-HIV. O Brasil é o 18º país do mundo em número de casos novos de tuberculose. A Organização Mundial da Saúde estima que em 2007 haviam 92 mil casos novos e que 14% destes casos sejam pessoas vivendo com HIV. Para falar sobre esse assunto nós estamos com a médica do centro municipal de controle, do Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde, a doutora Luciene Medeiros. Olá doutora Luciene, boa tarde!

Luciene Medeiros, médica do Centro de Referência do Programa Municipal de DST/Aids de Campinas: Olá Marco, boa tarde!

Marco: Obrigado pela participação, um abraço a todos do programa municipal de combate às doenças sexualmente transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde. Todas as quintas-feiras nós abrimos espaço para divulgar assuntos relacionados à aids e também a maneira de melhor informar o ouvinte. Doutora, porque que o paciente com HIV ele é mais sujeito à tuberculose?

Luciene: Então, a tuberculose é uma doença oportunista. Um terço das pessoas, isso da população em geral, é infectada, tem o bacilo dentro do organismo e não fica doente. Mas aí quando acontece a queda da imunidade a doença pode surgir. No caso do HIV em que a patologia de base da pessoa é a queda da imunidade então a tuberculose tem grande chance de estar aparecendo.

Marco: Agora vamos falar um pouquinho, doutora, o que é a tuberculose, como que ela se manifesta, quais são os sintomas, para que as pessoas possam entender um pouco mais, porque era uma doença muito comum há anos atrás, não é doutora?

Luciene: A gente vivia uma situação, antes, antes da epidemia de aids de relativo controle da doença. E com a aids a tuberculose voltou a ser uma doença importante no Brasil e no mundo. A tuberculose é uma doença basicamente respiratória, acomete o pulmão em grande parte dos casos e os sintomas são febre, tosse, tosse com catarro, então a gente sempre orienta que quando a pessoa está com tosse há mais de três semanas para procurar uma unidade de saúde que pode ser tuberculose. Febre, tosse, pode ter dor no pulmão, pode ter fraqueza pode ter falta de apetite, sintomas de uma infecção, mas o pulmão e a tosse são bem característicos ...
Marco: Desses sintomas, o paciente com HIV, os sintomas são mais fortes, como que é doutora?

Luciene: Não, não. Às vezes é até mais fraco, Marco, porque como a imunidade do paciente está muito diminuída ele pode até não apresentar um quadro rico de sintomas. E por isso até que, no caso de paciente com HIV, a gente até já começa investigar tuberculose com tosse, com duas semanas de tosse, diferente da população em geral que é com três semanas. Então é um quadro mais silencioso, no caso da pessoa com HIV. Só que a equipe que trabalha com HIV, já sabendo disso, fica atenta a qualquer sintoma.

Marco: Agora como é o tratamento desse paciente aqui em Campinas por vocês do programa municipal de combate às DST?

Luciene: O tratamento é prolongado por seis meses com tomada de medicação. A gente tem um problema que é o dos pacientes que abandonam o tratamento com uma certa freqüência porque a melhora do estado clínico é muito rápida, Marco. E só de a pessoa estar se sentido bem ela fala: ‘Ah, já estou curada” e aí abandona o tratamento. Então a gente fica muito em cima porque tem que ter ... Tem que tratar durante seis meses!

Marco: Seis meses?

Luciene: Seis meses.

Marco: E esse tratamento é com medicação diária, doutora?

Luciene: Diária.

Marco: Que tipo de medicação é ministrada?

Luciene: É um antibiótico que é um antibiótico utilizado só para a tuberculose (nomes dos medicamentos ) e agora o Ministério da Saúde está introduzindo uma quarta droga e com a quarta droga a gente vai melhorar a qualidade do tratamento e vai facilitar a ingestão de medicamento porque vai passar de seis medicamentos por dia para quatro medicamentos por dia. Então nos dois primeiros meses de tratamento (...) são quatro comprimidos diários ... Vão passar a ser com essa nova droga. E os quatro meses da segunda fase são dois comprimidos diários.

Marco: Eu estou até recebendo um material da Denize Assis, da Secretaria de Saúde, que hoje foi feita uma capacitação por técnicos do Ministério da Saúde, Campinas esteve presente, uma nova maneira de se tratar a tuberculose. Esse medicamento é de um laboratório indiano e já é utilizado em outras partes do mundo. Ele deve ser mais eficaz então, não é doutora?

Luciene: Na realidade não muda o tratamento. A gente está introduzindo uma droga que a gente já usava antes, mas para os casos de retratamento, alguém que tivesse tratado mas que voltou a ter doença ou então que tivesse abandonado. Então não é uma droga nova, o que a gente está fazendo é reforçando o esquema anterior, com essa quarta droga, porque eram três medicamentos anteriormente e diminuindo o número de comprimidos, vão ser quatro medicamentos em um comprimido só. Isso para melhorar a adesão. Você imagine a pessoa tomar seis comprimidos? Vai passar para quatro, já está diminuindo um pouco, não é Marco?

Marco: Com certeza, diminui a dosagem e acho que o organismo até reage um pouco melhor. Doutora um paciente está com, aqui em Campinas temos muitos pacientes com HIV com tuberculose ou temos um número que está sendo bem administrado?

Luciene: Campinas segue uma tendência que é a do País e que é a do Estado. A taxa de co-infecção é por volta de 15%. Todos os nossos casos de tuberculose, 15% são HIV positivos.

Marco: Doutora, a tuberculose, além dos problemas que ela traz a pessoa fica sem apetite, fica cansada, o que acontece?

Luciene: Fica. O cansaço, a falta de apetite, uma febrezinha no final da tarde que deixa a pessoa muito acabada. A sudorese noturna também é um sintoma muito frequente. E tem um sintoma que é característico que é o sangramento através do escarro. Quando é um quadro um pouco mais avançado e a infecção atinge vasos sanguíneos no pulmão, pode ter sangramento no escarro.

Marco: Doutora Luciene Medeiros é médica do programa municipal de combate às doenças sexualmente transmissíveis, nós temos um ouvinte na linha que quer fazer uma pergunta. (...) Alô, é Pedro?

Pedro: Sim.

Marco: Boa tarde, obrigado pela audiência Pedro.

Pedro: Boa tarde, eu estou aqui no Centro e sempre estou ouvindo vocês.

Marco: Muito obrigado e qual a sua pergunta para a doutora?

Pedro: Qual a reação que esse medicamento para a tuberculose dá porque uma pessoa na família tomou e deu muita náusea, muita tontura, e isso aconteceu além dos seis meses de tratamento. Isso é normal?

Marco: Doutora ...

Luciene: Oi. Olha só Pedro: Não é normal! Existe sim com uma certa freqüência, existe um quadro de intolerância gástrica, que pode ser dor de estomago, enjôo, isso que você falou, náusea, que passa. A gente costuma prescrever medicação (...) junto com o antibiótico e costuma passar no primeiro mês de tratamento e se for mesmo da medicação de tuberculose deve ter sido uma reação individual da pessoa que a gente pode dizer, entre aspas, uma certa alergia, mas isso é muito raro de acontecer, não costuma acontecer normalmente, não.

Marco: Tá respondido, Pedro?

Pedro: Tá respondido, sim. O médico que atendeu essa pessoa da família disse que era normal ... A pessoa tinha uma certa idade, por volta de ... acima de 60 anos ... e ele disse que era normal essa tontura que dava e a pessoa até não conseguia caminhar na rua sozinha ... tinha sempre que ser acompanhada e o médico explicou que era devido ao medicamento ...

Luciene: Então, o que pode acontecer em pacientes idosos é que tudo fica um pouqhinho mais complicado então, se o rim da pessoa não funciona direito, aí a quantidade de medicamento circulando no sangue passa a ser maior, mas aí o médico tem mesmo é que ir monitorando cada caso para ver o que que eventualmente está acontecendo com a pessoa.

Marco: Obrigado Pedro pela sua participação. Participe sempre aqui do nosso programa, viu?

Pedro: Obrigado Marco.

Marco: Um abraço Pedro e a todos os moradores aqui do centro de Campinas ... É a prestação de serviço ... Doutora, só para a gente encerrar, porque que a pessoa que tem tuberculose é orientada a tratar em cidades como altitude, como por exemplo Campos do Jordão, há muitos anos atrás isso era muito comum, não era?

Luciene: Era. O que acontece é o seguinte: Como o bacilo se instala no pulmão, nas cidades altas você tem o ar mais limpo, a situação é mais adequada. A pessoa, nestas cidades, acabava tendo uma situação de vida mais adequada. E aí não é só a questão do ar e da altitude, mas acabava comendo melhor, tendo uma vida mais tranqüila, então um conjunto de questões, então na verdade não era só o ar, mas o conjunto das condições. Com os antibióticos isso mudou bastante. Antes não tinha cura, então as pessoas iam lá para ver o que que ia acontecer ... Era assim: ‘Vamos melhorar a vida da pessoa em todos os aspectos para ver o que que acontece. Mas é muito importante que fique claro para as pessoas que a tuberculose é uma doença que tem cura, no caso do HIV ela é a principal causa de morte entre pessoas que tem HIV. Então é muito importante que as pessoas que têm tuberculose estarem procurando fazer o teste de HIV para saber se não têm uma co-infecção aí e se for o caso fazer o diagnóstico precoce do HIV porque às vezes a pessoa que tem o HIV fica doente da tuberculose.

Marco: Ela pode então ter a tuberculose e ela não sabe que tem o HIV?

Luciene: É, exato.

Marco: Ah, esse então é o alerta ...

Luciene: A pessoa com aids pode ter a tuberculose.

Marco: E às vezes a pessoa não sabe?

Luciene: Não sabe.

Marco: E esse atendimento é de graça na rede pública, não é doutora?

Luciene: Sim, sim! E essa medicação é protegida. Não tem em farmácia, não pode ser dada em farmácia, e não tem em hospitais de forma livre para outras doenças ... É um antibiótico que poderia ser usado para outras doenças, só que a gente guarda esse antibiótico para tuberculose que é para a gente não ter problemas de resistência e aí é distribuído gratuitamente em qualquer serviço de saúde do país.


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